A Nova Geração Vai Em Busca do Sonho Americano
O que vocês assistiam quando eram crianças?
Tirando os programas da Xuxa e de Sandy e Junior, os desenhos que eu assistia vinham de fora, mas eu não lembro de querer viver como as crianças e os adolescentes das coisas que assistia na TV. Primeiro que eu assistia “Tom e Jerry”, “Pica Pau” e “A Vaca e O Frango”, então é difícil você se espelhar em um bicho. O máximo que cheguei a desejar foi querer ter hamsters por causa de “Hamtaro”, mas hoje em dia eu dispenso! Acho que comecei a ter noção de hábitos e costumes estrangeiros quando comecei a usar mais a super internet discada entre uma ligação e outra do meu pai no fim de semana.
Eu tenho mil irmãos e sou a mais velha deles, então pude ver a clara diferença entre a minha geração e a dos meus irmãos, que agora têm 15 e 14 anos. Eu não lembro de vê-los assistindo muitos desenhos como eu assisti. O que rolou nos anos 2000 foi um boom de séries americanas com nomes em inglês, como “LazyTown” (que eu descobri que rola uma tradução MARAVILHOSA para Vila Moleza. Parabéns aos responsáveis!!), “Barney” e “The Backyardigans”. Eu lembro dos meus irmãos pequenininhos falando esses nomes e dançando as musiquinhas incríveis que infernizaram anos da minha adolescência. Aliás, que bichos estranhos essas crianças gostavam, cara!
Aos 11 e 12 anos, enquanto eu estava morrendo querendo ser a Sandy e me achando incrível porque estava aprendendo a cantar as músicas em inglês de Sandy e Junior Internacional, essas crianças dos anos 2000 já estavam totalmente ligadas e devidamente apresentados ao american way of life. Além de saberem todas as musiquinhas do mundo, elas sonhavam com a moda e com a vida que elas levavam nos high school da vida. Quando fiz minha monografia, perguntei para uma das minhas irmãs o que ela queria copiar dos programas que via na TV e ela disse que queria ser líder de torcida e ter um armário de escola, tipo locker, para colocar os livros e enfeitar. Armário da escola, cara! Olha a que ponto a coisa toda chegou!! O que tem demais em um armário? Se fosse uma cultura nossa ter um troço desses, seria algo normal, que você poderia até achar prático, mas não seria nada demais! Mas a gente viu tantas cenas de armários bonitinhos com a foto do bofe mais bonito da escola, que a gente quer um! Líder de torcida eu não vou nem comentar…
Esse é o armário:
Essa nova geração não tem restrições quanto ao uso da internet como nós tivemos. Então, além dos milhares de canais de TV fechada que proporcionam esses programas, as crianças ainda podem assistir tudo online e ficar por dentro dos milhares de sites, fotos e interatividades que rolam nesse universo. Depois da fase punk do Barney, meus irmãos cresceram e passaram a assistir “Hannah Montana”, “Os Feiticeiros de Waverly Place”, “Zack e Cody” e outras mil séries oferecidas pelo Disney Channel e pela Nickelodeon. Eles cresceram cercados de cultura estrangeira e o resultado é gritante! Eles sabem muito mais coisas sobre outros países do que eu sabia na idade deles, além de ter um sotaque e um vocabulário de inglês muito mais rico do que eu tinha aos 15 anos. Aliás, acho que atualmente é quase impossível você estar por fora desse universo.
Os anos estão passando e os meus irmãos cresceram ainda mais. Eles agora procuram por séries mais adultas ou as séries mais comentadas, como “Friends”, “How I Met You Mother”, “The Big Bang Theory”, entre outras. Eles cresceram com os americanos! Cresceram cercados de sonhos de ir para os Estados Unidos e de uma frustração absurda e sem sentido por não terem aqui o american way of life, frustrados por não terem um armário qualquer pra guardar os livros ou porque nas suas escolas não há um grupinho de meninas populares que são líderes de torcida. Eu tive minhas frustrações, mas acho que elas começaram na adolescência quando descobri Nova York e Londres em uma pesquisa que fiz para a escola na época. As crianças e os adolescentes hoje sabem demais, será que eles se frustram mais cedo? Frustram-se ou sonham? Independente da resposta, às vezes sinto que é uma geração que está crescendo com mais insatisfações com o país e com a cultura em que vivem, que cresce com o complexo de inferioridade e que sonha cada vez mais em ir em busca do “sonho americano”.